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Olhar para dentro de nós, por Pedro Branco

Um artigo que nos transporta para o interior, para a reflexão sobre o papel das pessoas ao serviço da educação.


A equipa da Apia desafiou o Professor Pedro Branco para, durante 4 meses, percorrer connosco um caminho de reflexão sobre a prática e a intencionalidade pedagógica dos docentes, à luz do Movimento da Escola Moderna. O texto que partilhamos é o olhar do formador e reflete a vida que se foi construindo nesta janela de tempo e de partilhas.

Olhar para dentro de nós

Quando me proponho a alguma formação, coloco-me, à partida, seja ela qual for, esta questão:
“Quem são as pessoas que vou ter ali ao meu lado?”
Esta é, seguramente, a mais importante das inquietações. Em todas as esferas da sociedade.
Não podemos fugir a isso.

Aceitar este desafio, na APIA, não foi diferente. Sem tentarmos perceber as pessoas que estão connosco, de muito pouco valerão as nossas palavras e intenções.
E foi então o que procurei fazer. Colocar aqueles profissionais, que se cruzam todos os dias, mas que provavelmente não se procuram todos os dias, a mostrar o que são, quem são.

Parece fácil e estimulante, mas não é. Entrar dentro dos outros, tentar que cada um se dê e revele os seus pensamentos e as suas fragilidades, pode ser demasiadamente perigoso. E o Homem, no geral, vem capacitado para se defender.
Será que vale a pena? Será que é consciente? Será que é controlável?

Creio que não. Ingenuamente acredito num ser humano muito mais aberto e disponível para a felicidade e para o outro; numa maturidade forte, que seria sabermos que estamos todos no mesmo barco e que nada mais importante pode haver nesta viagem do que as crianças. O resto não vale. Nós não valemos.

E então, foram-se passando as sessões entre fintas e seduções, na tentativa de encontrar este olhar. Porque se um profissional de educação não souber olhar deveria ir procurar outra atividade. Olhar é a nossa mão. E pensar.
Também procurei que se mudasse um pouco a forma de olhar. Olhar pensando. Porque se um profissional de educação não souber olhar pensando – e de forma crítica, reflexiva e cooperada – deveria igualmente ir procurar outra atividade.

Olhar pensando é a nossa pele. E perguntar-se. Também procurei que se evoluísse na forma de olhar pensando. Já vai longe o tempo em que os professores e os educadores eram pessoas – as pessoas – de certezas.
Olhar pensando e perguntando-se. E poderia continuar...
... até chegar às grandes inquietações da nossa profissão.

Gostava de ter conseguido, nem que seja por uma respiração que fosse, única, atingir um pouco o íntimo de cada um, no sentido de que não mais olhará, pensará e perguntará o mundo da mesma forma, com as mesmas certezas e lentes.
Isso já não depende de mim e um trabalho deste tipo carece uma periodicidade muito maior do que aquela que teve. Talvez nada se tenha passado... Ou talvez sim...

Apesar de tudo, creio ter deixado claras as minhas ideias (mais do que estratégias) sobre alguns valores éticos e culturais da nossa profissão. Acredito que se alguma honestidade existe, teremos mesmo de começar todos a acreditar que é necessário uma mudança de paradigma. Um paradigma interior e não exterior. Não existem modelos pedagógicos sem pensamento. E não existe pensamento sem pessoas. E não existem pessoas sem partilha.

E eis-me chegado de novo às primeiras questões: “Quem são as pessoas que vou ter (tive) ali ao meu lado?”
Creio ter saído destas 7 sessões com as mesmas dúvidas, apesar de tantas palavras que circularam entre nós, escritas, ditas e ouvidas.

As palavras – armas analgésicas que facilmente nos iludem das práticas. As palavras – armas essenciais de comunhão e construção. As palavras – armas destruidoras.
Onde querem então, usar as vossas palavras?

Eis a chave de todo um mundo novo. Que o digam as crianças!
 
Pedro Branco

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